Cresce a Discordância Entre Jovens Homens e Mulheres Sobre o Rumo da Política Americana

No continente europeu, partidos de extrema direita triunfaram nas eleições da União Europeia, em Junho, e foram catapultados não apenas pelos mais velhos, mas surpreendentemente pelos jovens. A ascensão da extrema direita não é nenhuma surpresa, mas o número de jovens homens que passam a identificar-se com a ideologia tem causado espanto. Jovens extremistas na França, Alemanha, Finlândia e Holanda, parecem fascinados por um retorno aos valores das décadas em que nasceram seus pais. 

Uma transformação semelhante pode acontecer em 2024 Eleições dos EUA em novembro. Até agora, os eleitores na faixa dos 20 aos 30 anos tendiam para a esquerda e incomodavam Donald Trump, opondo-se fortemente às suas propostas em eleições anteriores. 

Movimento como a Marcha das Mulheres, nos protestos Black Lives Matter, e ativistas climáticos eram, em grande parte, liderados por jovens. No entanto, pesquisas eleitorais recentes apontam que, embora as mulheres jovens permaneçam comprometidas com estas causas, há um considerável movimento para a direita entre os homens da mesma faixa etária. 

Os números surpreendem: em 2016, 51% dos homens jovens se identificaram ou se inclinaram para o Partido Democrata. No ano passado, este número caiu para 39%. Os homens jovens agora apoiam o Partido Republicano e seu candidato Donald Trump. A indicação de Kamala Harris ainda deverá acentuar a curva de crescimento na migração de homens jovens para o Partido Republicano. De acordo com pesquisa realizada nos EUA este ano, 86% dos republicanos não consideram importante eleger uma mulher presidente durante a sua vida, em comparação com 64% dos americanos em geral.

Entenda a crescente disparidade de gênero entre os jovens eleitores

A diferença partidária entre homens e mulheres jovens quase dobrou nos últimos 25 anos. Quando Joe Biden, um homem branco e octogenário, lançou sua campanha para reeleição como o candidato do Partido Democrata, os homens da geração Z não demonstraram animação. Embora as primeiras pesquisas tenham sugerido que a geração Z pareça favorável à nomeação de Kamala Harris, ela não causou muito impacto nos homens. 

Alguns pesquisadores acreditam que estamos testemunhando uma nova política de ressentimento. Os homens jovens, que estariam perdendo privilégios que enxergam como direitos, sentem que o movimento #MeToo foi longe demais, e que o feminismo os deixou para trás. Neste novo contexto, buscam uma politica e sociedade que resgate os valores, costumes e regras chanceladas por um Partido Republicano. 

O cientista social Felipe Nunes, co-autor do livro “Biografia do Abismo”, que traça uma radiografia da polarização política no Brasil, explica o tema do ressentimento. “É impressionante perceber que alguns grupos olham para os outros de forma ressentida, pois cresceram mais que ele. E esse tipo de sentimento tem sido estudado no mundo inteiro como um grande gatilho para criação de valores autoritários.”

Em 15 de Julho, Donald Trump escolheu o senador J.D. Vance, de Ohio, como candidato a vice-presidente em sua chapa. Autor do livro Hillbilly Elegy e uma forte liderança conservadora, Vance  relata no livro a sua vida crescendo com a família em Ohio, e aborda a sua experiência com a pobreza e valores aprendidos como lealdade, responsabilidade e amor duro. Para o candidato a vice-presidente de Trump, “Tudo começa com força — fronteiras fortes, famílias fortes, uma economia forte e um presidente forte.”

Martírio paranoico 

O primeiro comício da campanha eleitoral de Trump em 25 de Março de 2024, no Texas, começou com um coro de homens cantando Justice for All (Justiça para todos), intercalado com o hino nacional e com Trump recitando o Juramento de Fidelidade com a mão no coração. Atrás, em telas grandes, havia imagens do motim do Capitólio.

Robert Reich, ex-secretário do trabalho dos EUA, e professor de política pública na Universidade da Califórnia, Berkeley, afirma que Trump assenta sua campanha em torno do que define como martírio paranoico. “Deixe-me lembrá-lo da constante corrente de violência nas mensagens de Trump para seus seguidores durante esta eleição. Ele fala de uma América dividida entre os apoiadores de Trump e “inimigos dentro” da nação que estão tentando destruí-lo e seus seguidores. Ele conjurou uma conspiração contra ele e, portanto, contra seus seguidores.”

Em um país no qual os jovens estão estatisticamente mais deprimidos, financeiramente mais vulneráveis e menos educados do que as jovens, eles acabam por buscar respostas eleitorais. A menos que o Partido Democrata consiga descobrir por que está perdendo jovens e como reconquistá-los, é alta a probabilidade dele surpreender-se com os resultados deste grupo demográfico em Novembro, como a Europa fez em Junho.

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